Trump é reeleito presidente dos EUA e gera incertezas em relação a COP 30 em Belém
Com a vitória de Trump, os mercados reagem com volatilidade, e cresce o temor de um possível boicote às negociações de metas climáticas, além de cortes no financiamento internacional. Esse cenário coloca em risco o sucesso da COP 30, marcada para 2025 no Brasil. O governo Lula e Barbalho temem as repercussões da ascensão do republicano à Casa Branca, que podem incluir a perda de prestígio do evento no cenário climático global e o bloqueio de iniciativas financeiras, como a criação de um mercado de carbono, um novo modelo de financiamento climático e a continuidade do Fundo Amazônico
Diferente do que apontavam as pesquisas, Donald Trump foi reeleito presidente dos Estados Unidos com folga sobre Kamala Harris e, a partir de janeiro de 2025, assumirá a Casa Branca, o que certamente trará inúmeras consequências para o restante do mundo. Um exemplo disso foi a reação imediata dos mercados: logo após a confirmação de sua vitória, a cotação do dólar no Brasil disparou, alcançando o pico intraday de R$ 5,86, antes de se estabilizar em torno de R$ 5,70 na última quarta-feira.
Na cidade de Belém, sede da COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que ocorrerá em 2025, começam a surgir questionamentos sobre as possíveis mudanças que o “efeito Trump” pode provocar no evento.
Isso ocorre porque o presidente eleito é um defensor declarado dos combustíveis fósseis e se opõe a cortes nas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Durante seu primeiro mandato, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, um tratado climático internacional assinado em 2016.
Boicote:
Segundo a CNN, o governo Lula teme um possível “esvaziamento” da COP 30. E, mesmo que isso não se concretize, há a preocupação de que o governo dos Estados Unidos tente “boicotar” a definição de novas metas climáticas para 2035.
Isso se deve ao fato de que os Estados Unidos, juntamente com a China, são os maiores emissores globais de gases de efeito estufa. Na COP 30, está prevista a apresentação de metas intermediárias para a redução dessas emissões.
Sem o compromisso dos Estados Unidos, a COP 30 perderia grande parte de sua relevância em relação às questões climáticas. Além disso, é pouco provável que o governo americano contribua de maneira significativa com o financiamento para ações de mitigação e adaptação ao aquecimento global nos países em desenvolvimento.
Governo do Pará:
Não era segredo para ninguém que o governador do Pará, Helder Barbalho, temia a ascensão de um governo de direita em Belém durante a COP 30 — o que gerou grande preocupação com a candidatura do deputado federal Eder Mauro (PL) e com a clara interferência nas eleições municipais de 2024. No entanto, em relação às eleições nos Estados Unidos, nada poderia fazer para impedir a ascensão de um democrata à presidência, senão tentar adoçar a boca do republicano.
Logo após a confirmação da vitória do aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador, preocupado com a COP 30 — evento no qual deposita grande expectativa de projeção política — parabenizou Trump e pediu que adotasse uma postura pragmática em relação ao Brasil. “O pragmatismo, a diplomacia e o histórico das relações bilaterais devem ser os únicos fatores a guiar a relação entre esses dois povos”, disse o emedebista.
Antevendo possíveis retaliações financeiras, Helder declarou: “As relações de parceria entre os Estados Unidos e o Brasil são históricas e o momento agora requer grandeza. O Brasil é a maior nação da América do Sul e os EUA, a maior potência do mundo. […] Parabenizo a democracia americana e desejo sucesso ao presidente eleito”.
Preocupado com a ausência de Trump na COP30 e com nova retirada dos EUA do acordo de Paris, o governador do Pará se manifestou “”Entendo da importância de sua presença. E creio, avaliando eventuais questionamentos de uma eventual não vinda, que as urgências climáticas batem às portas de todos e têm dado efeitos a todos os países. Agora mesmo vimos a mobilização que foi necessária na Flórida por conta do furacão. Isso tudo são urgências climáticas que não podem ser negadas nem levadas para o campo ideológico”.
O L’Argent:
O governador Helder Barbalho apostou na COP 30 como palco para defender um novo modelo de financiamento climático, além do Fundo Amazônico. A proposta envolveria a criação de uma aliança entre os países amazônicos, com o objetivo de pressionar os países desenvolvidos — incluindo, claro, o governo dos Estados Unidos — para garantir repasses financeiros que viabilizem a proteção da região.
Outra proposta que deverá ser apresentada por Barbalho seria a de um mecanismo de mercado de carbono. Nesse modelo, empresas e países poderiam compensar suas emissões de gases de efeito estufa por meio da compra de créditos de carbono, transferindo recursos para aqueles que adotam medidas efetivas de redução de emissões.
Além disso, o governador não escondeu o desejo de assumir uma posição de protagonismo nesse processo. Esse anseio ficou evidente quando, em uma de suas entrevistas, declarou: “Uma coisa é o Brasil fazer esse chamamento, outra coisa é o Brasil liderar um movimento de oito países, que logo poderá envolver outros que compartilham a mesma pressão global sobre as mudanças climáticas.”