A educação antirracista está ganhando força nas escolas públicas do Pará, com a criação de bibliotecas exclusivas de autores negros, conhecidas como “Afrotecas”. O projeto, que começou em Santarém, no oeste do estado, agora será expandido para cinco outros municípios. Idealizado pelo professor Luiz Fernando França, o objetivo é levar a iniciativa para todo o Brasil, promovendo a igualdade racial desde a primeira infância.
As Afrotecas oferecem um acervo diversificado, incluindo livros, jogos, brinquedos e instrumentos musicais, todos voltados para enfrentar a discriminação racial nas escolas. Segundo França, a ideia nasceu do Projeto ‘Kiriku’, uma pesquisa sobre literatura, história e cultura africanas, vinculada ao curso de Letras da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). O foco é combater o racismo nos Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEIs), promovendo formas positivas de identidade e representatividade para crianças negras.
Educação Antirracista nas Escolas
A criação das Afrotecas é fruto de um trabalho de campo realizado pela equipe do projeto, que identificou padrões de discriminação racial nas instituições de educação infantil. “A forma como pensamos esta tecnologia tem origem no problema que queremos combater e superar: o racismo na infância”, explica França. A escolha dos materiais disponíveis nas bibliotecas é pensada para combater estereótipos, como o preconceito relacionado ao cabelo de crianças negras, promovendo uma visão afirmativa de sua identidade.
Atualmente, quatro Afrotecas estão em funcionamento no Pará: Afroteca ‘Willivane Melo’, considerada a central do projeto, e outras três localizadas nos CEMEIs Paulo Freire, Antônia Corrêa e Sousa, e Maria Raimunda Pereira de Sousa. As próximas unidades estão previstas para serem inauguradas até março de 2025, nas cidades de Alenquer, Belterra, Monte Alegre, Oriximiná e Santarém, em parceria com o Ministério da Igualdade Racial.
Uma Ferramenta de Transformação
Para Luiz Fernando França, a educação antirracista é uma necessidade urgente no Brasil. Ele acredita que as Afrotecas podem se tornar uma política pública de combate ao racismo e discriminação. Além de atender às crianças, a iniciativa serve como laboratório para a formação de professores e pode ser adaptada para outros públicos, como alunos do ensino fundamental e médio.
O projeto também busca efetivar a implementação da Lei 10.639/2003, que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileiras nas escolas. “A Afroteca tem potencial de se tornar uma política pública antirracista que possa ser oferecida para todas as crianças do Brasil”, defende França.