O Brasil receberá a 30° Conferência das Partes da Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), e Belém, que sediará o evento, corre contra o tempo para estar pronta até novembro de 2025. A COP, que reúne todos os anos líderes mundiais para discutir soluções sobre como conter o aquecimento global e oferecer alternativas sustentáveis para a vida, acontecerá em uma cidade onde 80,2% da população não tem coleta de esgoto e, apenas 2,4% do esgoto coletado, é tratado, segundo dados do estudo do Instituto Trata Brasil.
“Belém está com obras do estado e da prefeitura, que estão caminhando com os projetos para atender a COP30. E, nós, da universidade, com plano de estudo de saneamento básico para os próximos 20 anos com foco na universalização dos serviços”, afirma José Almir Rodrigues Pereira, professor titular de saneamento da Universidade Federal do Pará e coordenador do Grupo de Pesquisa de Hidráulica e de Saneamento (GPHS).
A Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) informa, por intermédio de sua assesoria de comunicação, que, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou um empréstimo de 314 milhões de reais para as obras da 2ª etapa da estação de tratamento de água do Bolonha, principal sistema de abastecimento de água da região metropolitana de Belém, além da reforma de vários sistemas de distribuição de água não integrados ao complexo Bolonha.
Projetos de água e esgoto na 2ª etapa da estação de tratamento do Una, no distrito de Mosqueiro, em Belém, estão em andamento, e, quando concluída, será a segunda maior estação de tratamento no estado, segundo informações da Cosanpa. A lempresa também está à frente da viabilização do Projeto de Desenvolvimento do Saneamento do Pará (Prodesan Pará), que recebeu investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no valor de 125 milhões de dólares, para obras de saneamento básico em Belém, Ananindeua e Marituba.
A assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop) informa que obras que envolvem macrodrenagem, saneamento, dragagem, limpeza e recuperação de 17 canais de Belém estão recebendo aporte de mais de 1 bilhão de reais. O estado já entregou mais de 3 quilômetros de canais revitalizados, como o canal do Tucunduba, o canal da Mundurucu e um trecho dos canais União, Timbó e Gentil Bittencourt.
A implantação do sistema de esgotamento sanitário na área do Complexo do Ver-o-Peso está recebendo investimentos de 15 milhões de reais e, na primeira etapa, serão construídos 4 mil metros de rede coletora de esgoto sanitário e 290 ligações domiciliares. Atualmente, o esgoto sanitário é descartado nas águas da Baía do Guajará sem nenhum tratamento. As informações são da assessoria de comunicação da Seop.
Todas estas obras, tanto da Cosanpa quanto da Seop, no final, quando estiverem concluídas, beneficiarão mais de 4 milhões de pessoas. Entretanto, as assessorias não informaram um prazo de conclusão para nenhuma delas.
Já o estudo do Instituto Trata Brasil mostra que, em coleta de esgoto, Belém só está melhor que Porto Velho e Macapá, e, no tratamento de esgoto, só Porto Velho é pior que a capital paraense. Isso porque, no período de 2018 a 2022, da região norte, o Pará foi o estado que mais investiu em água e esgoto, cerca de 1,7 bilhão de reais. Desse montante, 305 milhões de reais vieram do prestador de serviço, 329 milhões de reais do município, e mais de 1 bilhão de reais do estado. “Agora estamos trabalhando no novo plano para Belém, apontando os principais problemas, definindo as melhores alternativas e elencando as prioridades. Também estamos estabelecendo o investimento ano a ano e para o quê precisa. Dividimos a cidade em áreas e qual o melhor caminho para cada uma delas”, explica Rodrigues Pereira.
“Belém foi muito forte e desenvolvida na época da borracha (conhecida como a “Belle Époque Amazônica”, que foi de 1890 a 1920), mas depois, passou o século 20 sem receber aporte, por isso esse déficit tão grande em infraestrutura”, diz o professor. Até o descarte do resíduo sólido é um grande problema para a cidade. “O aterro sanitário de Marituba (que atende Belém, Ananindeua e Marituba) está quase no limite de sua capacidade e ainda não está sendo construído o novo. Sem falar que está na justiça o seu funcionamento, que já deveria ter encerrado (o contrato com o consórcio que o administra) e foi prorrogado até fevereiro do ano que vem”, completa o professor. O consórcio que ganhou a licitação e começou a operar em abril deste ano, chamado de Ciclus Amazônia, será o responsável pela construção de um novo aterro sanitário bioenergético na região metropolitana de Belém.
Fonte: Valor Econômico