Grande Belém registra 323 pessoas baleadas no primeiro semestre de 2024; 13% das vítimas foram atingidas em casa
No primeiro semestre de 2024, 323 pessoas foram baleadas durante tiroteios registrados na Região Metropolitana de Belém (RMB), com 41 delas atingidas dentro de suas residências, conforme apontou o relatório do Instituto Fogo Cruzado no Pará. O número de vítimas baleadas em casa corresponde a 13% do total de atingidos na Grande Belém.
Eryck Batalha, coordenador do Instituto Fogo Cruzado no Pará, afirma que os fatores para o alto número de disparos em residências são variados e difíceis de serem determinados com certeza. “O destaque, ao contrário do que se poderia pensar, não se relaciona com roubos, brigas ou suicídios, mas sim à tentativa de homicídios e operações e ações policiais”, destacou.
Batalha explica que homicídios e tentativas de homicídio geralmente ocorrem em ataques armados sobre rodas, sugerindo a ação de grupos criminosos. Essas situações correspondem a cerca de metade das ocorrências (20). As ações e operações policiais também se destacam pela alta letalidade (16 ocorrências). “A única certeza que podemos extrair dos dados é que o sentimento de insegurança está invadindo as casas na RMB”, afirmou.
Perfil das vítimas e distribuição dos crimes
O relatório aponta que as vítimas de baleamento no estado são majoritariamente homens cisgênero, adultos e negros. Os bairros com o maior número de registros de disparos em residências foram: o Centro de Ananindeua (5 registros), seguido dos bairros Guamá (3 registros) e Terra Firme (2 registros), ambos na periferia de Belém. O restante dos registros se distribui por outros bairros da Região Metropolitana.
“Dois pontos chamam a atenção nesses dados. O primeiro é a quantidade de homicídios e tentativas de homicídios com indícios de ação de grupos criminosos. O uso dos dados do Fogo Cruzado pelos órgãos competentes pode ajudar a identificar o problema e melhor empregar os recursos governamentais para reduzir a letalidade por armas de fogo. Outro ponto preocupante é o alto grau de participação dos agentes de segurança pública na letalidade por armas de fogo”, afirmou Eryck Batalha.
Necessidade de políticas públicas
Batalha enfatiza que o Estado deve trabalhar para a redução da letalidade, em defesa da vida. “Precisamos de forças policiais que defendam e preservem a vida, qualificadas e capacitadas para lidar com situações de pressão e que tenham a força letal como último recurso. Precisamos de políticas em defesa da vida, embasadas em dados e com participação da população, que cotidianamente vive esse sentimento de insegurança”, destacou.
De acordo com Eryck Batalha, a geração cidadã de dados, que inclui a população no processo de produção de conhecimento sobre a violência, é essencial para entender os desafios com profundidade. “Política pública de qualidade se faz com dados de qualidade, e dados de qualidade são possíveis apenas com participação popular. Entender as motivações e os agentes envolvidos na violência armada é o primeiro passo para criar políticas de diminuição da letalidade”, concluiu.
A reportagem solicitou um posicionamento ao Governo do Pará sobre os dados da violência, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.