A inflação ao consumidor no Brasil teve o segundo mês de queda em agosto, ainda sob o impacto positivo do recuo dos preços dos combustíveis, e apontando também uma desaceleração dos preços dos alimentos, que vinham resistindo a ceder, mostraram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
Com a nova queda do índice, que foi menos intensa do que a registrada em julho, a inflação em 12 meses ficou abaixo de dois dígitos pela primeira vez em um ano. O índice de difusão da inflação no entanto, que aponta o quão espalhada está a pressão sobre os preços na economia e que estava em queda há três meses, voltou a subir.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,36% em agosto, melhor resultado para o mês desde 1998, quando houve deflação de 0,51%, e quarto melhor para todos os meses da série do IBGE, iniciada em 1980.
A queda veio após a deflação de 0,68% registrada em julho e ficou ligeiramente abaixo da queda de 0,39% estimada por analistas em pesquisa da Reuters. .
Em 12 meses, o IPCA ficou em 8,73%, ante uma alta de 10,07% do mês anterior. Analistas esperavam alta de 8,72%.
A principal contribuição para a deflação no mês veio mais uma vez do grupo de Transportes, com queda de 3,37%, sob o impacto do recuo de 10,82% dos combustíveis. O grupo contribuiu para uma queda de 0,72 ponto percentual da inflação.
O movimento reflete a queda dos preços praticados pela Petrobras nas refinarias em meio à retração dos preços do petróleo no mercado internacional no mês e teve impacto, ainda, da lei patrocinada pelo governo no ano eleitoral que estabeleceu um teto para as alíquotas de ICMS sobre os setores de combustíveis, gás, energia, comunicações e transporte coletivo.
O grupo Comunicação, que tem peso menor sobre o índice geral, caiu 1,10% em agosto.
O destaque de alta veio do grupo Saúde e cuidados pessoais, com 1,31%, e uma contribuição de alta de 0,17 ponto percentual no índice geral.
Já o grupo Alimentação e bebidas teve alta de 0,24%, após aumento de 1,30% no mês anterior.
Segundo o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, a queda do leite foi fundamental para a desaceleração dos alimentos. O leite longa vida teve deflação de 1,78% em agosto, após ter disparado 25,46% no mês anterior. No ano, o produto ainda acumula alta de 74,7%.
“O leite subiu muito refletindo o impacto (dos preços) de fertilizantes e insumos e ainda o efeito das rações. Em agosto o tempo vai ficando menos seco, as pastagens melhoraram e isso ajuda a mexer com os preços do leite”, afirmou Kislanov.
Em nota, economistas do banco Itaú Unibanco destacaram que a queda do leite deve contribuir para uma deflação do grupo alimentação nos próximos meses.
“Nossa projeção para o IPCA no final de 2022 é de 7,0%, com viés de baixa dados os resultados recentes e revisões baixistas para os meses de setembro (que deve apresentar nova deflação) e outubro”, disseram.
DIFUSÃO
No início desta semana, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o país provavelmente terá um total de três meses de deflação, mas que a batalha contra a inflação não está ganha e que há elementos de preocupação. Ele já havia afirmado anteriormente que a inflação de alimentos veio “bem acima” do que o BC esperava em agosto.
Campos Neto deixou a porta aberta para mais uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, atualmente em 13,75% ao ano, após o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, ter afirmado esperar que os juros começariam a cair em face da deflação.
Em agosto, o índice de difusão da inflação ficou em 65%, ante 63% em julho, na primeira alta desde abril, mas ainda abaixo dos índices ao redor de 75% vistos nos primeiros meses do ano.
“Temos uma inflação espalhada com 65% dos itens em alta; tivemos deflações em itens importantes mas a maior parte do IPCA é positiva”, disse Kislanov.
Em nota, o banco Citi destacou que a qualidade da inflação do país segue sendo uma preocupação, com alta ainda elevada dos preços menos voláteis (núcleos de inflação) em 12 meses.
Com informações Época Negpocios