Com auxílio emergencial, miséria no Pará chega ao menor nível da história

Com mais de 60% dos domicílios recebendo o auxílio emergencial, a proporção de pessoas vivendo no Estado do Pará abaixo da linha de extrema pobreza nunca foi tão baixa. Em junho, o percentual da população do Estado nessa situação (com renda inferior a US$ 1,90 por dia, equivalente a R$ 154 mensais) alcançou o patamar histórico de apenas 4,3%, segundo dados da PNAD COVID19, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No último trimestre do ano passado, por exemplo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apontou que 15% dos paraenses estavam nessa faixa de renda.
O percentual de paraenses em situação de pobreza (com renda menor a US$ 5,50 por dia, ou R$ 446 mensais) também diminuiu consideravelmente no mesmo período: de 46,9% para 32,8%. Os dados são do estudo feito pelo pesquisador Daniel Duque, da área de Economia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre). O levantamento referente ao Estado do Pará foi feito, com exclusividade, a pedido do O Liberal. “São pesquisas feitas de formas diferentes, mas como os níveis são grandes demais, ou seja, caiu de 46,9% para 32,8% e de 15% para 4,3%, não tem como não dizer que caiu bastante a pobreza e a extrema pobreza no Pará. É muito provável que, realmente, o Estado do Pará nunca tenha visto um percentual tão baixo de pobreza extrema”, analisa o pesquisador.
O levantamento aponta que o principal responsável pelo encolhimento da pobreza foi o auxílio emergencial (AE). Em maio, no primeiro mês da ajuda federal relacionada à pandemia, a faixa da pobreza ficou em 33% e a da pobreza extrema em 5,3%. Naquele mês, o atendimento do auxílio emergencial chegou a 58,6% dos domicílios. No mês seguinte, os recursos emergenciais alcançaram 63,7% dos lares do Estado e os níveis de penúria foram os menores já registrados.
No geral, as cinco parcelas da ajuda emergencial vão injetar R$ 9,88 bilhões na economia do Pará. “O valor emergencial tem um valor muito alto, não é nenhuma surpresa os percentuais terem caído tanto. Considerando o valor pago em junho para a população do Pará, o valor per capta, só do auxílio, foi de R$ 179,47. Ou seja, a linha da pobreza extrema é de R$ 154 por mês, e a média da população já é acima dessa linha”, considera Daniel Duque.
Em todo o País, o atendimento do AE, em junho, chegou a 50% da população de baixa renda. Com o incremento destes recursos, o percentual de habitantes na pobreza extrema reduziu a 3,3% (ante 6,2% de dezembro de 2019) e o de pobreza a 21,7% (contra 23,8%) – os menores níveis já registrados por todas pesquisas domiciliares brasileiras. Nos anos 1980, quase 15% dos brasileiros sofriam com a pobreza extrema. Ou seja, o socorro dado pelo governo aos mais pobres criou uma situação nunca vista nos últimos 40 anos.
“São quedas consideráveis, mas de novo com base em pesquisas diferentes. No caso do Brasil, houve uma redução em torno de três pontos percentuais na pobreza extrema e uns cinco pontos na pobreza não extrema. Talvez, há uma margem de erro aí. Agora, no caso do Pará, eu fico mais seguro em afirmar que houve uma redução, estamos falando de mais de onze pontos de diferença”, explica.
Para o pesquisador, o estudo, mais do que um reconhecimento da importância do auxílio emergencial durante a pandemia do coranavírus, aponta uma preocupação real com o que vai acontecer com uma parcela significativa da população brasileira quando acabar o estado de calamidade, em 31 de dezembro. “O auxílio mostrou que as políticas sociais no Brasil são mal desenhadas. A retirada desses R$ 600 mensais tende a levar a extrema pobreza aos níveis de 2007”, ressalta Daniel Duque. Os 4,3% na extrema pobreza representam 370 mil paraenses. Em todo o País, os 3,3%, a 6,9 milhões de pessoas.
Conforme o levantamento, em 2007, 9,2% da população (17,5 milhões) vivia na extrema pobreza. “Mas a população do País aumentou. Esse percentual, atualmente, significa 19,3 milhões de cidadãos. Ou seja, no início de 2021, a tendência é a população miserável mais que triplicar se nada for feito. E quando se olha para os níveis de renda, se constata que o aumento das desigualdades explodiu. Os mais ricos elevaram a renda durante a pandemia, e os mais pobres viram o dinheiro minguar no bolso”, reforça.
Fonte O Liberal



