Indígenas da região do baixo rio Tapajós protagonizaram um protesto contra o projeto da Ferrogrão durante um evento promovido pelo Ministério dos Transportes, realizado na terça-feira (7) na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). Um indígena kumaruara utilizou tinta de urucum para marcar o rosto de seis homens e uma mulher que estavam presentes na primeira fileira do auditório, em uma ação que visava expressar a oposição veemente dos povos indígenas ao empreendimento.
A Ferrogrão, uma ferrovia que cortaria pontos sensíveis da Amazônia em um percurso de quase 1.000 km, é vista pelos indígenas como um plano de extermínio e uma ameaça aos seus territórios e modo de vida. O ato de passar a tinta de urucum foi descrito como uma demarcação da presença, força e resistência dos povos locais diante do avanço do agronegócio e dos projetos de escoamento de grãos, como a própria Ferrogrão.
O protesto foi realizado de forma incisiva durante o “seminário técnico sobre viabilidade dos aspectos socioambientais da ferrovia EF-170”, organizado pelo Ministério dos Transportes, visando discutir os impactos da ferrovia e o direito à consulta livre das comunidades tradicionais afetadas pelo empreendimento.
Os indígenas afirmam não terem sido formalmente convidados para o evento, o que evidencia a falta de diálogo e consulta prévia às comunidades afetadas. Segundo representantes dos povos kumaruara, munduruku, kayapó, panará, apiaká, tupinambá, xavante, além de quilombolas, agricultores familiares e movimentos sociais da região, a Ferrogrão causará desmatamento, encolhimento de unidades de conservação e impactos profundos nos modos de vida das pessoas em pelo menos 16 terras indígenas e 104 assentamentos rurais.