Do Conjunto Médici ao Conjunto Costa e Silva: Locais de Belém geram polêmica por fazer referencia à ditadura militar
Nomes de conjuntos habitacionais e ruas da capital paraense fazem referência a ex-presidentes do regime militar, gerando debates sobre memória e história.

Belém possui diversos locais públicos nomeados em homenagem a personagens ligados à ditadura militar brasileira (1964-1985), o que tem gerado debates sobre a permanência dessas referências em espaços urbanos. Conjuntos habitacionais, ruas e praças da capital carregam nomes de ex-presidentes do período, como Costa e Silva e Médici, além de militares que atuaram no golpe de 1964.
Segundo o projeto “Ditamapa”, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), todos os estados brasileiros possuem locais nomeados em referência a autoridades do regime militar. O levantamento aponta que há pelo menos 538 locais com homenagens a ex-presidentes do período, incluindo:
- 184 referências a Artur da Costa e Silva
- 109 referências a Emílio Garrastazu Médici
- 157 referências a Humberto Castelo Branco
- 51 referências a Ernesto Geisel
- 34 referências a João Figueiredo
A professora Giselle Beiguelman, da USP, uma das responsáveis pelo estudo, destaca que a escolha desses nomes reflete a narrativa oficial do poder. “O que está por trás desse processo de nomeação é uma história do poder, que, via de regra, apaga as dissidências e as histórias contra-hegemônicas”, explica.
Homenagens a ex-presidentes da ditadura em Belém
Na capital paraense, alguns dos locais que carregam esses nomes são:
- Conjuntos Médici I e II (bairro Marambaia)
- Conjunto Costa e Silva (bairro Castanheira)
- Cordeiro de Farias (bairro Tapanã)
- Euclides Figueiredo (bairro Marambaia)
Quem foram as figuras homenageadas?
Artur da Costa e Silva
General do Exército e 27º presidente do Brasil (1967-1969), Costa e Silva foi responsável pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5), que intensificou a repressão política, restringiu liberdades civis e fortaleceu a censura no país. Seu governo foi interrompido por problemas de saúde, e uma junta militar assumiu o comando até a posse de Emílio Garrastazu Médici.
Emílio Garrastazu Médici (Médici I e II)
Presidente entre 1969 e 1974, Médici governou no período de maior repressão política, com perseguições, torturas e desaparecimentos de opositores. Apesar do crescimento econômico do chamado “Milagre Brasileiro”, seu governo também aprofundou as desigualdades sociais e a concentração de renda.
Cordeiro de Farias
General e articulador do golpe de 1964, Cordeiro de Farias ocupou cargos estratégicos dentro do governo militar e foi uma das figuras responsáveis pela consolidação do regime.
Euclides Figueiredo
Militar e pai de João Figueiredo, último presidente da ditadura (1979-1985). João Figueiredo assumiu o governo durante a transição para a redemocratização, promulgando a Lei da Anistia e enfrentando pressões pela abertura política.
Discussão sobre mudança de nomes
Em diversas cidades brasileiras, há projetos para a substituição de nomes de ruas e espaços públicos que fazem referência ao regime militar, mas em Belém, ainda não há propostas concretas para renomeação desses locais. A permanência dessas homenagens, no entanto, segue gerando polêmicas, já que remete a um período marcado pela censura, perseguição política e repressão.
“O debate sobre esses nomes é essencial para a crítica da nossa história. É importante contestar homenagens a ditadores e torturadores, mas também criar recursos em museus e arquivos que deem visibilidade às histórias de violência que nos constituem como sociedade”, defende Beiguelman.