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Cacique Raoni pedirá a Lula para não explorar petróleo no Pará e Amapá

Cacique Raoni pedirá a Lula que desista da exploração de petróleo na foz do Amazonas

O cacique Raoni Metuktire, uma das maiores lideranças indígenas do Brasil, pretende pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que desista da exploração de petróleo na foz do Amazonas. O líder Kayapó considera o projeto um risco ambiental significativo e compara a iniciativa ao que ocorreu com a hidrelétrica de Belo Monte, que gerou grandes impactos no Pará. A declaração foi feita durante entrevista à AFP e repercutiu em diversos veículos de comunicação.

Raoni, que subiu a rampa ao lado de Lula em sua posse, receberá o presidente em sua aldeia nos próximos dias para discutir a questão. O líder indígena enfatiza que explorar petróleo na Amazônia contradiz a agenda ambiental do governo e enfraquece a posição do Brasil como anfitrião da COP30, a Conferência do Clima da ONU, que ocorrerá em Belém em 2025.

“Já fui informado sobre o projeto [do bloco FZA-M-59, da Petrobras, no litoral do Amapá] e vou ter a oportunidade de sentar com Lula para discutir o assunto. Vou pedir que ele não encoraje a exploração na Amazônia”, afirmou Raoni.

Comparação com Belo Monte

Embora não tenha feito uma relação direta entre a exploração de petróleo e a usina de Belo Monte, Raoni relembrou a luta contra a construção da hidrelétrica no Pará. Segundo ele, quando Lula assumiu seu segundo mandato, foi alertado sobre os impactos ambientais da barragem no rio Xingu, mas o projeto seguiu adiante, causando prejuízos irreversíveis para povos indígenas e comunidades locais.

“A barragem causou um forte impacto ambiental no Pará. Espero que o governo não cometa o mesmo erro ao incentivar a exploração de petróleo na foz do Amazonas”, afirmou o cacique.

Preocupação com mudanças climáticas e demarcação de terras

Raoni também pretende cobrar do presidente maior rapidez na demarcação de Terras Indígenas. Embora o governo Lula tenha retomado as homologações interrompidas durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, o ritmo tem sido mais lento do que o esperado. Além disso, a violência contra os povos indígenas segue alarmante, com invasões de terras e conflitos envolvendo garimpeiros e madeireiros ilegais.

O líder Kayapó ressaltou que as mudanças climáticas estão afetando diretamente os povos indígenas, com o desmatamento crescente, rios contaminados e alterações nos períodos de chuvas e secas.

“Há cada vez mais desmatamento, contaminação dos rios, épocas de chuvas que provocam enchentes e matam as plantas que dão alimentos. Todos nós somos cada vez mais afetados pelas mudanças climáticas”, destacou Raoni.

Pressões dentro do governo e no Congresso

Nos bastidores, aliados de Lula avaliam que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem pressionado excessivamente o Ibama para liberar a licença de perfuração de petróleo na foz do Amazonas. Recentemente, Silveira criticou o presidente do órgão ambiental, Rodrigo Agostinho, afirmando que ele não teria “coragem” de tomar uma decisão. A declaração gerou reação da Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema Nacional), que acusou o ministro de constranger a equipe do Ibama.

Além disso, cresce no Congresso uma movimentação favorável à exploração de petróleo na região. Parlamentares articulam a criação da Frente Parlamentar do Senado Federal em Defesa da Exploração de Petróleo na Margem Equatorial do Brasil, que busca ampliar o apoio ao projeto.

Outra iniciativa é a Frente Parlamentar em Apoio ao Petróleo, Gás Natural e Energia (FREPPEGEN), presidida pelo deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ). O grupo lançou o Instituto de Petróleo, Gás e Energia (IPEGEN), que terá como objetivo fortalecer o setor de combustíveis fósseis no Brasil. O diretor-executivo do instituto, general Marco Aurélio Vieira, afirmou que a iniciativa se inspira na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), conhecida pelo forte lobby em defesa do agronegócio.

O Brasil e a transição energética

A exploração de petróleo na foz do Amazonas coloca em xeque a posição do Brasil como protagonista da transição energética mundial. Enquanto Lula defende, em discursos internacionais, a redução do uso de combustíveis fósseis, setores do próprio governo e do Congresso pressionam para ampliar a produção de petróleo e gás no país.

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