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A classe artística e o silêncio sobre a extinção da Funtelpa: Hipocrisia ou pragmatismo?

O silêncio de figuras emblemáticas da cultura paraense diante da extinção da Funtelpa gera críticas e expõe contradições políticas.

A extinção da Fundação Paraense de Radiodifusão (Funtelpa), proposta pelo governo Helder Barbalho, trouxe à tona uma questão incômoda: o silêncio de nomes influentes da cultura paraense, como Ursula Vidal, Gaby Amarantos e Fafá de Belém. Artistas e ativistas que, em outros tempos, se posicionaram veementemente contra medidas de reestruturação do serviço público, agora evitam manifestar opinião, gerando perplexidade e críticas.

Onde está Ursula Vidal?

Hoje à frente da Secretaria de Cultura do Pará (Secult), Ursula Vidal, que em outros tempos estaria com coletivos de esquerda contra a gestão tucana, parece ter abandonado sua combatividade. Quando o governo Simão Jatene propunha mudanças que afetavam a cultura, Vidal estava entre as vozes contra. No entanto, diante da extinção da Funtelpa, órgão responsável por promover iniciativas de valorização cultural como o Terruá Pará e o clássico Catalendas, ela permanece calada. É difícil imaginar que a Ursula ativista deixaria passar algo assim sem reação, caso o governador não fosse Helder Barbalho.

Gaby Amarantos: O Pará no discurso, mas não na prática?

Gaby Amarantos é outra figura importante da cultura paraense que surpreende pelo silêncio. Conhecida por exaltar o Pará em quase todas as suas manifestações públicas, a cantora não se manifestou sobre o projeto que extingue um dos pilares da comunicação e valorização cultural do estado. Recentemente envolvida em discussões sobre a expansão da música paraense, especialmente o tecnomelody, Gaby parece preferir a neutralidade política em relação ao atual governo, mesmo que isso signifique ignorar uma ameaça concreta à cultura que tanto promove.

Fafá de Belém e o silêncio político inesperado

Fafá de Belém, que há décadas usa sua voz para tratar de temas políticos e culturais, também tem evitado tocar no assunto. Sempre pronta a defender a Amazônia e as riquezas paraenses em outras ocasiões, a ausência de seu posicionamento sobre a Funtelpa causa estranhamento. Para uma artista acostumada a ser porta-voz do Pará no Sudeste, sua postura passiva diante da proposta de Helder Barbalho é, no mínimo, contraditória.

A hipocrisia reina?

O silêncio dessas figuras não passa despercebido. Enquanto servidores da Funtelpa e apoiadores se manifestam nas ruas contra o Projeto de Lei 701/2024, que busca incorporar a fundação à Secretaria de Comunicação, artistas que deveriam ser aliados naturais dessa luta preferem não se comprometer. Esse distanciamento reforça uma percepção crescente de hipocrisia na classe artística do estado. Quando as mudanças vinham de governos de oposição, havia mobilização e barulho; agora, sob a gestão de um aliado político, reina a complacência.

O que está em jogo com a extinção da Funtelpa?

Criada em 1977, a Funtelpa administra veículos de comunicação fundamentais, como a rádio e TV Cultura, que têm sido essenciais para divulgar a diversidade cultural paraense. A extinção da fundação e sua incorporação à Secretaria de Comunicação levantam preocupações éticas e práticas. Servidores apontam para o risco de confusão entre comunicação pública e governamental, comprometendo a independência editorial e a qualidade dos conteúdos.

Além disso, a falta de diálogo na formulação do projeto de reestruturação administrativa é outro ponto de crítica. A proposta, apresentada com mais de 100 páginas e sem consulta aos grupos diretamente afetados, foi devolvida pela Assembleia Legislativa para revisão. Enquanto isso, a incerteza paira sobre o futuro de uma instituição vital para a preservação da identidade cultural do Pará.

A hora de agir é agora

Se defender a cultura paraense é um orgulho tão repetido por essas figuras públicas, o momento de provar isso é agora. A extinção da Funtelpa não é apenas uma questão administrativa; é um ataque direto ao patrimônio cultural e à independência da comunicação no estado. O silêncio não protege a cultura, mas a fragiliza.

A classe artística paraense, que tantas vezes representou a resistência cultural do estado, precisa refletir: é possível continuar exaltando o Pará enquanto a base de sua cultura é desmontada? A sociedade paraense merece mais do que silêncio. Ela merece uma defesa ativa de seus maiores símbolos.

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